quinta-feira, 24 de julho de 2025

Aprender

 Aprender a respirar

como quem, pela primeira vez, sente o mundo entrar.
Aprender a mamar,
a confiar que o corpo de outro é abrigo.

Aprender a chorar —
não por dor apenas, mas porque tudo é demais.
Aprender a engatinhar:
a terra tem chão, e o chão tem vontade.

Depois, ficar de pé —
a coragem mora nos joelhos trêmulos.
Aprender a andar,
a ir além do tapete,
e a correr como quem foge do tempo.

Aprender a escovar os dentes,
como se a boca já soubesse que precisa sorrir.
A tomar banho,
e descobrir que a água limpa até as vontades.

Pentear os cabelos
é desenhar vento com as mãos.
Arrumar o quarto
é inventar um mundo onde tudo tem lugar.

Aprender a andar de bicicleta:
cair e levantar com vento no rosto.
Aprender a escrever,
desenhar o invisível com linhas.

Ler —
descobrir que há mais vida do que a que cabe no corpo.
Aprender a comprar,
e entender que nem tudo tem preço.

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