Apesar dos 10 anos Onofre nunca havia sido beijado,nem pelos pais,nem por ninguém, ao menos, não se lembrava. Seus Pais eram alcoólatras
e quase não tinham momentos de lucidez, tomavam água ardente como se fosse água corrente, gastavam todo dinheiro que
recebiam da
coleta de lixo com a bebida.
Vivendo num barraco de madeira corruído por cupins no interior de
Itabuna, Onofre só tinha a
companhia de um cachorro, que nem raça
possuía; colocou seu nome de
Beijamim, Pois logo que encontrou o cachorro no
lixão da cidade o cão lhe deu um beijo, ou melhor, lambeu o rosto do pequeno rapaz e isso para ele era um beijo.
Para Onofre beijo era uma lambida no rosto dado todos os dias por
beijamim. As vezes ficava com ciúme da garrafa de cachaça que sua mãe bebia sem dó, aquilo parecia um beijo.
Onofre estudava num bairro afastado de sua casa, numa casa de barro com outras 10 crianças sujas e descalças, é lá que ele foge da sua realidade e mergulha no mundo mágico das letras e dos livros, o parque encantado das palavras. Onofre era considerado o melhor aluno da turma pois já sabia ler e escrever graças a dedicação e aos esforços dispensados por D.
Edileuza uma galega com cabelos escorridos e que não tirava o cachimbo da boca,
nenhum dos alunos havia visto ela sem o cachimbo, alguns diziam que era parte da
sua boca, mas não havia na redondeza
ninguém tão esforçado a dar educação como aquela mulher, apesar de ter estudado até a 7ºsérie se desdobrava para passar o conhecimento e cultura para seus alunos.
D.
Edileuza sempre elogiava Onofre pois conseguia ver naquele menino, muitas qualidades e o esforço que ele fazia para continuar estudando apesar de sua dura realidade.
Num daqueles dias após ter passado lição de casa a
fumante professora disse que daria uma barra de chocolate para aquele aluno que fizesse todas as lições de casa
corretamente. Todos ficaram contentes do desafio para ganhar o delicioso presente.
Ao chegar em seu barraco Onofre foi recebido pelo pulguento mas fiel
beijamim, que lhe deu um beijo no rosto ou melhor na realidade uma aguada lambida, e para variar seus pais estavam de
porre, caídos num canto do barraco.
Como era de costume algumas pessoas levavam comida para
Onofre que ele dividia com
Beijamim já que seus pais mais bebiam do que comiam.
Depois de mais um beijo ou melhor uma
linguada Onofre foi fazer a lição. No dia seguinte quando D.
Edileuza corrigiu os exercícios dentre todos os alunos o único que havia feito todos os exercícios sem errar um sequer foi Onofre.
Ele ficou feliz
porque iria ganhar um doce de chocolate nem se lembrava mais a última vez que havia comido um. Ao dar o chocolate D.
Edileuza com extremo sacrifício tirou o cachimbo da boca e deu um beijo no rosto de Onofre, ele ficou imóvel, assustado e principalmente decepcionado.
Pensou consigo mesmo:
- A Professora tão inteligente e ainda não aprendeu a beijar, ela precisa ter aulas de beijo com
Beijamim.